Mensagem do Coronel RUI LUCENA COUTINHO, ex-Cmdt da CCAÇ 2739, a todos aqueles que pertenceram a esta Companhia |
Dentro de relativamente pouco tempo, completaremos 40 anos em que a maioria de nós se reuniu e conheceu no Regimento de Infantaria Nº2 em Abrantes, Unidade mobilizadora do nosso Bcaç 2919. A vossa juventude, aliada à responsabilidade e obrigação do cumprimento dos deveres militares, permitiu preparar e encarar a missão que nos foi destinada em Angola, não só com invulgar empenhamento, mas também com a certeza do envolvimento a curto prazo numa guerra que se sabia traiçoeira, onde o inimigo actuava sempre de forma inesperada e imprevista. Dois longos anos passados em Cabinda em condições difíceis de descrever, inicialmente terríveis, onde quase tudo faltava menos a vontade de sobreviver, transformaram ao fim de pouco tempo a fisionomia dos vossos jovens rostos, em semblantes carregados de dureza que reflectiam a saudade, solidão, sofrimento e doenças. A desconfiança permanente, aliada à incerteza sobre o que poderia acontecer no dia seguinte, manteve sempre com muito esforço a Companhia em níveis altos de prontidão e operacionalidade, pois a situação de imprevisibilidade militar era constante e poderia a qualquer momento causar danos irreparáveis. O início da comissão de serviço, com a colocação da companhia reforçada com três grupos de combate, em missão de apoio e segurança a um pelotão de engenharia, que actuava na região do M'bundo/Chimbete/Sangamongo, teve tanto de violento como desgastante, quer devido à precariedade dos meios que nos foram atribuídos, quer em termos psicológicos, tal o envolvimento e intensidade das acções militares. Foram meses seguidos de pressão contínua, em deficientes e confrangedores acampamentos, sempre à espera do alvorecer e consequente partida diária para a frente dos trabalhos de engenharia, com a sensação permanente de sermos observados por um inimigo invisível à espreita da sua oportunidade para actuar, como aconteceu. E assim, os maçaricos/meninos tornaram-se valorosos e valentes soldados, maduros e experientes, revelando-se bravos e decididos em situações muito difíceis, arriscando a vida quer em combates debaixo de fogo, quer em acções de detecção e levantamento de minas, ganhando o temor e o respeito dos nossos adversários, que nos passaram a evitar. A posterior deslocação da Companhia para a região do Dinge/Tchivovo em missão de quadrícula militar, constituiu como que um prémio por todos merecido. Foi então possível retemperar forças e para além da actividade operacional normal, confraternizar e criar laços de amizade que perduraram até hoje, devendo por isso também recordarmos os bons momentos de convívio, que por participação e iniciativa de todos conseguimos obter. É legítimo poder-se afirmar, que pelo empenhamento e acção da CCaç 2739 constituímos uma pequenina parcela da história da Guerra Colonial de Portugal em África. A mim, que tive o privilégio e o maior orgulho de vos comandar, cabe enaltecer o vosso comportamento e altruísmo, pedindo que saibam transmitir aos vossos familiares e vindouros os episódios e as experiências por que passaram, os novos conceitos de vida adquiridos, mas essencialmente os valores morais que vos nortearam, destacando os princípios da lealdade e bravura, que por terem sido reforçados em condições limite únicas e adversas, mais valorizados se tornaram. Sem deixar de prestar a minha sentida homenagem, aos que saudosamente nos deixaram, a todos vós sem excepção vos saúdo e revejo, por serem merecedores deste meu pequeno testemunho de reconhecimento e gratidão. Gaia, 10 de Outubro de 2008 Rui Fernando Ribeiro de Lucena Coutinho Coronel de Infantaria |
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